Seu (meu) emprego subiu no telhado: reflexões realistas sobre IA e o futuro
Muitos projetos vão dar errado neste momento, muitos vão receber notícias na mídia pelo lado negativo e positivo, mas nenhuma tecnologia causará tanto desemprego quanto a inteligência artificial. Será tudo muito rápido, como um tsunami. A IA vai ajudar o ser humano a ser muito mais produtivo, mas também vai varrer empregos que existem hoje. Ela não vai criar a mesma quantidade de empregos que vai eliminar.
Sou empreendedor na área de tecnologia há mais de 20 anos, fundador do grupo 4Linux e das startups Rankdone e Jedai.
Mesmo sem formação especializada em desenvolvimento, consegui sozinho criar um sistema baseado em modelos de linguagem (LLMs) que realiza o trabalho de gestão de time de vendas com maior eficiência e menor custo do que uma pessoa hoje que faz isso para a empresa.. Hoje, tecnicamente, não necessito mais da função tradicional de gerente de time de vendas. O sistema está na versão Beta e está superior ao resultado humano. Não pretendo demitir ninguém, pois tenho possibilidades internas de realocação, mas nem todas as empresas poderão seguir este caminho.
Em outras palavras: talvez eu não precise mais contratar um novo gerente de time de vendas no futuro. O que desenvolvi internamente pode inclusive tornar-se um produto comercializável. Utilizamos o HubSpot na área de vendas, e é possível que ferramentas como essa repensem futuramente seus modelos de negócio devido à evolução das capacidades da inteligência artificial. Aqui vale um artigo só deste assunto: Com IA CRMs poderiam ser muito mais inteligentes do que são hoje e não cobrar por número de licença e sim por resultado alcançado mais um valor mensal menor.
A popular frase “Você não será substituído por uma IA, mas por alguém que saiba usá-la”, no meu ponto de vista, rapidamente se tornará ultrapassada. Em poucos anos, a inteligência artificial tomará inclusive as vagas de quem domina seu uso. Atualmente já não há empregos suficientes para todos, e com o avanço da automação por IA, haverá ainda menos oportunidades disponíveis. Muitas dessas “novas vagas” simplesmente nunca chegarão a existir.
Durante o curso que realizei sobre IA no MIT, dois excelentes professores quase me convenceram de que a IA não teria impactos significativos sobre os empregos. A ideia predominante era que as vagas atuais seriam substituídas por profissionais habilidosos no uso da IA e o número de vagas cresceria em IA. De fato, inicialmente me parece que será assim. Mas a realidade é que, para diversas funções, como a de gestor de vendas, sequer será necessário que a pessoa conheça profundamente IA. Ela talvez deixe de existir.
Imagine processos nas áreas de vendas, marketing e administração sendo cada vez mais automatizados por agentes de IA multitarefa. Esses agentes serão gerenciados por menos pessoas, altamente qualificadas, mas que substituirão muitos outros empregos. A escalabilidade proporcionada pela inteligência artificial é algo nunca visto antes em processos empresariais.
Em breve, CEOs e líderes de empresas possivelmente começarão a decidir por automatizações por IA com mitigações de riscos técnicos das LLMs. Hoje, muitos executivos ouvem discursos quase tranquilizadores de palestrantes que não têm experiência prática no desenvolvimento com LLMs. Vamos ver os países desenvolvidos terem um ganho de produtividade enorme perante o Brasil, que está atrasado com IA apesar de termos pesquisadores de calibre invejável para qualquer país.
Se você trabalha na área de tecnologia, talvez sinta algum alívio por achar que será um dos últimos a sofrer essas mudanças. Entretanto, em cinco, três anos (talvez menos), o cenário da tecnologia possivelmente estará profundamente alterado em relação à hoje. Hoje, um consultor de TI consegue atender um número limitado de clientes; com o uso intensivo de IA, essa capacidade aumentará drasticamente, mas o mercado não crescerá na mesma proporção.
É possível que grandes empresas de tecnologia, como Google, Amazon e Microsoft, freiem um pouco o ritmo de automação extrema, receando as consequências sociais. Mas será esse freio suficiente? Bill Gates está apontando que em até 10 anos teremos uma sociedade com 2 dias de trabalho. Poucos meses antes ele dizia 3 dias.
Se você acha que estou exagerando, talvez você esteja sendo levado por argumentos frágeis sobre IA por palestrantes e consultores. Recomendo diversificar suas fontes e ouvir também quem pensa diferente.
Conheço muitas pessoas inteligentes na área de TI que acreditam que a IA não eliminará tantos empregos assim. Embora existam bons argumentos a favor dessa visão otimista, também percebo frequentemente argumentos frágeis sendo repetidos:
- “A IA ainda não está pronta para substituir trabalhadores.” É verdade que ela não está plenamente pronta. No entanto, ninguém precisa esperar uma futura versão avançada (GPT-5, por exemplo). As versões atuais, como GPT-4 ou GPT-3.5, já conseguem automatizar significativamente processos empresariais. Empresas já adotam a abordagem “AI First”, onde novas vagas só são abertas após avaliar se a IA não pode realizar as tarefas.
- “As LLMs alucinam e vão tomar decisões erradas.” De fato, modelos de IA ainda cometem erros ocasionais, chamados alucinações. No entanto, com técnicas modernas é possível reduzir drasticamente esses problemas. O sistema que desenvolvi para gestão de vendas apresenta taxas extremamente baixas de erro, sem prejuízos perceptíveis ao resultado final.
- “As LLMs não pensam, não raciocinam e não compreendem.” É verdade que, em termos filosóficos e biológicos, a IA não possui uma mente consciente. Entretanto, para diversas funções empresariais, não é necessário um raciocínio profundo, apenas execução eficiente e padronizada.
- “As Big Techs não estão lucrando com IAs e, portanto, a bolha vai estourar.” Mesmo que empresas como OpenAI ainda não tenham encontrado um modelo lucrativo definitivo, a história mostra que, após estouros de bolhas anteriores (como a da internet), tecnologias essenciais permaneceram e prosperaram. A IA está agregando valor real agora, independente de lucros imediatos.
- “As LLMs não criam, apenas repetem.” Para a maioria dos processos empresariais, a capacidade criativa excepcional não é um requisito. CEOs não precisam de IA extremamente criativa para automatizar processos e eliminar cargos.
A IA não substituirá todos os empregos humanos, certamente. Sempre haverá demanda para habilidades humanas específicas. No entanto, o número de vagas disponíveis diminuirá bastante devido à automação possibilitada por estas tecnologias.
Mas existe luz no final do túnel.
Na próxima edição da nossa newsletter, abordarei o que você pode fazer para lidar com essa realidade iminente e talvez garantir um pouco sua empregabilidade futura.